10 de maio de 2010

Entrevista: Armando Inocentes

Quem é Armando Inocentes?
Antes de mais sou um ser humano que se dedicou ao ensino e à transmissão dos meus conhecimentos. Sou Professor e Treinador de Karaté, cinto negro 4º Dan. Sendo Licenciado em Ensino de Educação Física e Mestre em Gestão da Formação Desportiva, grau que me foi conferido pela defesa de uma dissertação, na Faculdade de Motricidade Humana, em 2002, subordinada ao tema “A Violência na Prática Desportiva Infanto-Juvenil”, fui primeiro seduzido pela investigação sobre a violência na prática desportiva entre os seus intervenientes directos. A seguir fui atraído pela pesquisa sobre as perversidades no desporto. Por último, embrenhei-me no estudo da ética desportiva e da moral no desporto. Quando julgava ter todas as respostas, verifiquei que eram as perguntas que estavam erradas!...

Como "nasceu" a ideia deste livro "Da Ética Desportiva às Perversidades no Desporto"?
A ideia deste livro nasceu precisamente dessas perguntas e da necessidade de dar a conhecer alguns aspectos menos conhecidos do desporto, actividade onde tanto abunda o óptimo como o péssimo. Há a tendência natural para o tal desporto que “dá saúde”… As pessoas acreditam que a prática do desporto reduz a agressividade do indivíduo… Depois todos discutem e todos percebem de desporto quando afinal estão a falar de futebol…
O desporto sempre esteve intimamente ligado a várias formas educativas, culturais e formativas, o que fez com que o considerássemos uma escola de virtudes. O fair-play e o espírito desportivo (códigos de conduta entre desportistas não escritos) mostram-nos comportamentos exemplares no desporto. Estão estes comportamentos ligados à Ética Desportiva e ao desenvolvimento moral do praticante ou competidor.
Mas a bivalência do desporto acaba por fazer despontar no seu seio as suas perversidades: a violência, o doping, a corrupção, a fraude desportiva, a morte súbita, as lesões permanentes, a exploração infantil e o treino intensivo precoce, assim como começam a ingerir-se no mesmo a política e a religião, sendo até visíveis no mesmo casos de racismo e de terrorismo.
Por outro lado há o desporto no clube e o desporto na escola, há o profissional do desporto e o desportista de bancada (agora mais desportista de sofá!), há a tendência para bater os recordes e para se procurar superar os seus próprios limites… tudo isto gera antagonismos no desporto.

Como foi o percurso até à sua publicação?
O percurso foi longo, quase cinco anos, dado que exigiu uma grande pesquisa bibliográfica e uma grande documentação acerca de casos ocorridos no desporto – tanto os casos exemplares como aqueles que são mais lamentáveis ou mesmo execráveis. Como durante dois anos estive à frente do Departamento de Formação da Federação Nacional de Karaté – Portugal e tinha a responsabilidade de ministrar uma acção de formação para treinadores sobre este tema, surgiu a ideia da própria Federação editar este livro – facto que nunca tinha acontecido na mesma.

Quais as tuas influências?
As minhas influências são as de qualquer investigador que procura interpretar os fenómenos que ocorrem no desporto. Há aqueles que defendem que o desporto é um reflexo da sociedade, há os que advogam que a sociedade influencia o desporto, mas esquecemo-nos que o desporto actual é uma profissão e que engloba inúmeras outras profissões e ao redor do qual são movimentados milhões e milhões… Como? Por quê? Para quê? O dinheiro tem actualmente grande influência no desporto. A era do “amor à camisola” já lá vai há muito tempo! Foi influenciado por estas reflexões que surgiu este livro.

Projectos futuros?
Projectos futuros? Futuros projectos? Talvez o Doutoramento à volta de uma destas temáticas…